Mobilidade Urbana

Transporte público: os desafios em relação à segurança dos usuários


Reportagem buscou informações sobre a regulamentação dos veículos, a opinião dos usuários e as condições das vias e paradas de ônibus.


Arnaldo Rocha Filho, Charles de Sousa, Guilherme Cordeiro, Jhulian Pereira, Lucas Renan Domingos, Marcos Brocca, Moisés de Souza, Samuel Cardoso Soares e Társila Elbert


21/11/2015
Prof. orientador Cláudio Toldo (SC0646JP) | Design: Prof. orientador Elias Rafael


A Autarquia de Segurança, Trânsito e Transportes de Criciúma (ASTC) cumpre um papel importante na segurança do transporte do município, mas principalmente no transporte público. Ela é responsável por gerir a segurança, o trânsito e o transporte, protegendo os usuários e reduzindo os acidentes, além de contribuir para o controle do tráfego.

Segundo a auxiliar de apoio à informação, documentação e pesquisa da ASTC, Renata Vargas Barbosa, a autarquia exige o cumprimento de alguns pré-requisitos para a liberação da licença de tráfego.


Terminal de ônibus do Bairro Pinheirinho recebe grande quantidade de estudantes. | Foto: Jhulian Pereira

Documentação do motorista e da empresa em dia, assim como vistoria anual do coletivo são itens básicos que devem ser cumpridos. Conforme Renata, a vistoria dos veículos coletivos é feita por uma empresa terceirizada, quando são checados itens que garantem a segurança e comodidade dos usuários, como por exemplo: o aspecto mecânico, sinalização, funcionamento de cordinha, acessibilidade, lataria, pintura e bancos.

A autarquia possui toda a documentação de controle de frota das empresas. Veículos colocados e retirados de circulação são informados à ASTC. Renata frisa que este procedimento é adotado para todo tipo de transporte especial, incluindo transporte escolar público ou privado, fretamento, táxis e moto-frete.

Em Criciúma, a ASTC contribui com o trabalho de fiscalização. A autarquia emite uma licença para constatar a regularidade dos veículos. Nela consta o número das vistorias aprovadas.


Entre os itens de vistoria de segurança estão as condições internas dos veículos. | Foto: Lucas Renan Domingos

Os documentos que comprovam a regularidade ficam à disposição das autoridades fiscalizadoras na ASTC, assim os motoristas não precisam carregar consigo toda vistoria aprovada, exceto por alguns casos em que o código de trânsito brasileiro obriga o porte de determinados documentos nos veículos (ouça a explicação de Renata Vargas Barbosa).

Apesar da autonomia da ASTC, o trabalho é realizado em sintonia com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) para ajustar determinadas irregularidades e garantir a segurança do coletivo. Um exemplo é a legislação municipal sobre o moto-frete, cujo código não trazia a realidade da cidade.

O município teve que adequar à lei características do trânsito local. O sucesso da segurança no trânsito depende muito desta adequação para que se torne de fato funcional. Em Criciúma não há linhas de vans para transporte de pessoas, como nos grandes centros (São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo).

Quando esse meio de transporte é utilizado por aqui - para que uma empresa desloque funcionários para uma filial - tudo ocorre de forma organizada e cumprindo a legislação do decreto municipal. O transporte escolar por meio de vans, por exemplo, deveria seguir regras também, mas Renata não sabe se existe uma associação, conforme fala no áudio abaixo:

A segurança é o principal fator que faz as pessoas deixarem de utilizar este meio de locomoção. Em Criciúma, Renata informa que os amarelinhos contam com câmeras de monitoramento e que a nova frota também está começando a vir com os equipamentos já instalados.


Empresas que operam no transporte público seguem regulamentações da ASTC e Inmetro

Lucas Renan Domingos e Arnaldo Rocha Filho

O sistema de transporte público de Criciúma atende aproximadamente 1,3 milhão de passageiros por mês (considerando usuários que utilizam os coletivos mais de uma vez ao dia). Para atender toda a população, três empresas operam na cidade: a ZTL Transporte, a Auto Viação Critur e a Transporte Coletivo Forquilhinha.

Com o grande número de passageiros aumenta a preocupação em relação à segurança dos usuários. Em Criciúma, os coletivos recebem anualmente vistoria e certificação da ASTC e do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

De acordo com o gerente de tráfego da ZTL Transportes, Volnei Gregório, as vistorias servem para verificar alguns itens de segurança dos coletivos.

"Eles verificam se os veículos atendem às especificações técnicas determinadas por lei. Conferem, por exemplo, o tacógrafo (equipamento que registra graficamente a velocidade do veículo), a acessibilidade, o elevador da plataforma, o funcionamento das portas, o sinal de parada, a comunicação braille e o ano do veículo, entre outras coisas", explicou.


Veículos devem atender as especificações técnicas previstas por lei. | Foto: Jhulian Pereira

Além da preocupação com os itens de segurança dos coletivos, as empresas também procuram proteger a integridade física de seus passageiros. A linha troncal (amarelinhos), atendida pela Critur e pela Forquilhinha, possui câmeras de monitoramento em todos os coletivos, que é um item de segurança não previsto em lei.

"Além dos coletivos da linha troncal, alguns de nossos novos veículos já estão sendo adquiridos equipados com as câmeras. Isso porque, apesar de raros, há registros de furtos e assédios dentro dos veículos", conta a administradora da Critur, Florisvalda Dario.

Já os ônibus da Transporte Coletivo Forquilhinha, além do sistema de monitoramento por câmeras de alguns veículos, contam com uma rede de localização do coletivo.

"Com o objetivo de buscar cada dia mais segurança ao usuário do transporte público de Criciúma, a empresas do Grupo Forquilhinha mantém na sua frota, sistema de monitoramento com tecnologia GPRS, que permite o acompanhamento do posicionamento da frota durante o período de operação", ressalta o administrador da empresa, Roberto Dagostin.


Empresas mantêm sistema de monitoramento com tecnologia GPRS. | Foto: Jhulian Pereira

Os motoristas, cobradores e demais funcionários da empresa, que trabalham diretamente com os usuários do transporte coletivo, também recebem treinamento especializado.

"Nós realizamos treinamentos de direção econômica, que envolve questão de velocidade e condução segura, e existe a parte de relacionamento com o usuário para orientá-los sobre segurança dentro do coletivo", comenta Florisvalda.

A renovação da frota também é um procedimento que consta na legislação nacional. Os veículos interbairros devem ser trocados após dez anos de uso, já os amarelinhos a cada 15 anos. Além das vistorias dos órgãos municipais, nacionais e internas das empresas, os veículos passam por manutenção corretiva e possuem um calendário de manutenção preventiva, seguindo as normas do fabricante.


Regulamentação de veículos e manutenção de vias

Jhulian Pereira

A regulamentação dos veículos e a falta de manutenção em trechos dos corredores de ônibus também preocupa sindicalistas e usuários do transporte coletivo da maior cidade do Sul do Estado. De acordo com o presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, de Carga e Passageiros de Criciúma (Sintracril), Celeir Formentin Cândido, a fiscalização é realizada com frequência.

"Nós do sindicato fiscalizamos a situação dos veículos do transporte público da cidade e procuramos ouvir os funcionários das empresas. Priorizamos a segurança de cada trabalhador. O sindicato tem papel fundamental para manter a regularidade dos serviços prestados em Criciúma pelas empresas de ônibus. Tanto é que, como sindicalistas, buscamos ouvir as reclamações e sugestões dos passageiros", conta Cândido.


Buracos geram insegurança aos usuários, além de prejudicar os veículos. | Foto: Jhulian Pereira

Conforme Florisvalda explica no áudio abaixo, em virtude das más condições das estradas do município, a revisão dos veículos ocorre de forma assídua.


Transporte de passageiros clandestino foi extinto em 2003

Charles de Sousa

Desde 2003, quando o transporte irregular por vans em Criciúma foi extinto, as empresas Critur, Forquilhinha e ZTL são as responsáveis pelo transporte de passageiros na cidade. Mesmo atuando de forma "clandestina", na interpretação dos empresários, e "alternativo", na opinião dos proprietários de vans, os passes escolares chegaram a ser utilizados como moeda de troca.

Os passes vendidos com 50% de desconto aos estudantes eram aceitos nas vans por R$ 1,00, preço da tarifa normal na época. Os bilhetes acabavam sendo comercializados por motoristas, cobradores das empresas e até com os próprios usuários do transporte alternativo.


Vans escolares só podem circular com autorização da ASTC. | Foto: Charles de Sousa

Hoje o transporte de passageiros realizados por vans só é possível para estudantes e trabalhadores, desde que autorizados pela ASTC. Mesmo com a regulamentação do transporte escolar e de trabalhadores, os motoristas de vans não quiseram falar sobre o assunto com a nossa reportagem.


Região do Pinheirinho concentra maior número de roubos

Moisés de Souza e Marcos Brocca

A região do Bairro Pinheirinho é a líder de casos de roubos contra pessoas em ônibus em Criciúma. O local denominado pela Polícia Militar como Setor 3 registrou cinco casos, seguido do Setor 5, Santa Luzia e arredores, com três casos. Os números são dos meses de janeiro a setembro deste ano.

O comandante da Polícia Militar de Criciúma, tenente-coronel Evandro Fraga, informou que casos de assédio e preconceito, se ocorrem, não chegam ao conhecimento da polícia.


Apesar do alto preço nas passagens, transporte público de Criciúma transmite segurança

Társila Elbert

A frota de ônibus para o transporte público de Criciúma conta hoje com 117 veículos cadastrados. Após a última reformulação nas linhas, são 19 carros cobrindo a rota da Avenida Centenário, os Amarelinhos, e outros 98 veículos alimentadores para as ligações interbairros, divididos em seis Mineirinhos e 92 ônibus brancos.

Segundo informações da ASTC, combinados, todos os carros transportam diariamente quase 30 mil pessoas e 19 mil destas embarcam nos próprios terminais.

Apesar do alto número de passageiros e da superlotação em horários de pico, os usuários não se sentem inseguros dentro dos ônibus. Maria Celina de Cedro, 52 anos, trabalha como serviços gerais e é moradora do bairro Mina do Mato. Ela usa quatro ônibus todos os dias para chegar ao trabalho.


Usuários procurados pela reportagem se sentem seguros, mas reclamam de lotação. | Foto: Carol Dias/ASTC

“Eu pego o ônibus branco logo cedo, às cinco da manhã. Ele chega rápido e eu nunca espero por muito tempo. Por dentro é sempre iluminado, então a gente se sente segura mesmo andando a essa hora”.

O final da tarde é um dos momentos com mais movimento no transporte público. A combinação do término do expediente comercial com o início do horário das aulas nas faculdades enche os ônibus de passageiros insatisfeitos com o serviço. Este é o caso de Fernanda Nascimento, 20 anos, acadêmica de Direito.

“Eu acho o transporte seguro, mas é muita gente. A frota devia ser maior nesses horários porque às vezes a gente até se atrasa por ter pessoas demais”.

Fernanda discorda também do valor das passagens, que atualmente, é um dos maiores do estado. “O preço está alto demais. Eu ando menos de cinco quilômetros e, sem o cartão de estudante, gastaria sete reais por dia. Mesmo com a segurança, ainda é um valor muito alto”, avalia a estudante.


Nossa reportagem também fez o comparativo entre o uso do carro e do transporte público

Hora de ir para o trabalho, à escola ou voltar para casa. Qual o meio mais rápido e/ou mais em conta: o carro ou o ônibus? Para resolver esta dúvida fizemos um trajeto pela Avenida Centenário, em Criciúma-SC. Confira no vídeo abaixo.